Celebrar dia de Santa Luzia, 13 de dezembro
Dia 13 de dezembro participei de uma romaria-caminhada desde aqui o Mosteiro Desierto de la Candelaria até a cidade de Cucaita (pronuncia-se Cucáita), mais de 30 km distante. Caminhamos pelas montanhas, desde as 2 da manhã até quase 9 da manhã, para participar dos festejos religiosos em louvor à Santa Luzia. A cidade, pequena, recebe muitos romeiros e devotos.
Acompanhe-me nesta caminhada. Aproveito para contar um pouco da vida de Santa Luzia. As palavras justificadas no centro são comentários para as fotografias. O texto justificado à esquerda é sobre a própria Santa Luzia.
Aqui está a imagem de Santa Luzia que temos no museu do mosteiro. Tirei essa foto ontem, por isso estou de cabelo curto. No dia 13 a imagem de Santa Luzia ainda estava passando por reparos.
Conheça um pouco da história de Santa Luzia, muito amada e invocada como a protetora dos olhos, janela da alma.
Santa Luzia (ou Santa Lúcia – o nome deriva do latim) nasceu em Siracusa (atual Itália) por volta do ano 283.
Precisei acordar no início do dia 13 de dezembro para caminhar na romaria com as mulheres e homens que decidiram viver esse ato de fé.
Conta-se que sua família italiana era rica e cristã, o que lhe proporcionou uma ótima formação cristã. Seu pai faleceu cedo. Sua mãe a prometeu, sem que ela soubesse disso, inicialmente, em casamento com um jovem de família distinta mas pagão. Em seu coração, Luzia já havia feito o propósito de consagrar-se inteiramente a Cristo.
Acordei por volta das... EPA!!! Dormi com roupa e tudo? Na verdade eu não dormi nada. Tinha algumas coisas para fazer e aproveitei o tempo disponível. Além disso, eu estava muito animado para a caminhada e o dia em Cucaita e o sono não veio de jeito nenhum. Mesmo assim resolvi tirar essas duas fotos: eu "dormindo" e eu "acordando". Saí do mosteiro era quase uma e meia da manhã do dia 13 de dezembro.
Quando sua mãe ficou doente, Luzia a assistiu, como boa filha que era. Como a mãe não melhorava, resolveu ir à Catania, no túmulo de Santa Águeda, famosa pelos muitos milagres que o Senhor realizava pela intercessão da venerada mártir.
Quase duas da manhã no caserio (conjunto de casas perto do mosteiro). O silêncio total foi quebrado com o latido de muitos cachorros. Duvido que alguém não tenha acordado com tal escândalo canino. Com a ajuda de Deus, não estava muito frio e não estava chovendo, ao contrário da maioria das noites anteriores.
Luzia levou a mão em peregrinação à tumba da santa; quando regressou, a mãe estava completamente curada. A mãe de Luzia permitiu, então, que a filha mantivesse seu voto de castidade e também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como era o desejo de Luzia. Assim ela o fez.
Apesar das nuvens, o luar iluminava bem o caminho. Outra grande ajuda de Deus nesta noite. As três primeiras da caminhada foi de subida. Subimos, subimos, subimos, subimos... parecia impossível que a subida não terminasse.
Luzia não queria oferecer sacrifício aos deuses e nem quebrar o seu santo voto de virgindade a Cristo. Ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Ela vivia em um período de perseguição religiosa, que foi imposta pelo cruel imperador Dioclesiano.
A primeira parada que fizemos foi essa, só para tirar a foto. Já estávamos perto do ponto de começar a descer. Estou ao lado da Yaneth, que é quem faz a caminhada devocional todos os anos, contanto que seja possível. Nestes 10 anos de peregrinação, só não foi caminhando um ano por motivo de falta de saúde. Estávamos em uns 12, ora todos juntos, ora em grupos separados. Nós 6 (os 5 da foto e quem a tirou) permanecemos juntos todo o tempo.
O jovem a quem Luzia havia sido prometida em casamento, ao se inteirar da negativa de Luzia em querer casar-se com ele, resolveu denunciá-la. Ela foi presa e levada diante das autoridades civis. Confessou sem vacilar sua fé em Cristo. Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição.
Passamos por alguns atalhos. Vários trechos eram bastantes perigosos de se caminhar, ainda mais de noite. Mas fomos bastante cuidadosos.
Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem os dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Ela respondeu que, quando a alma não permite, a profanação do corpo não afeta a pessoa. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo.
Já raiando o dia: que paisagem mais bela! Nosso objetivo, Cucaita, está lá longe, depois daquelas montanhas.
Luzia foi torturada (os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva) e somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano de 304.
Lindo, fantástico, maravilhoso, indescritível...
Para proteger as relíquias de santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária.
Nossa segunda parada. Curtíssimas, de somente alguns minutos. O objetivo é caminhar sem paradas de descanso... e em jejum, preferivelmente. Passamos por diversos tipos de terreno, com e sem vegetação, e de vegetação bem diversificada entre um terreno e outro.
Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.
Apesar do cansaço da caminhada e da noite sem dormir, tudo valeu a pena.
Somente em 1894 o martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado, quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro, em Siracusa, Ilha da Sicília, atual Itália.
Cada lugar mais impressionante que outro, pela variedade de visual e sentimento. Já estávamos perto da rodovia, mas ainda bem longe de Cucaita.
A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV. Provavelmente foi São Gregório Magno quem introduziu o nome de Santa Luzia no cânon da missa. A devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão ("Luzia" deriva de "luz"), já era exaltada desde o século V.
Aqui está a rodovia. Depois que entramos nela, caminhamos ainda uma hora e meia.
Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo.
Olha só quem está na foto, na beira da rodovia. Pelo menos a subida e a descida haviam terminado.
A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Foi enaltecida pelo magnífico escritor Dante Alighieri, na obra "A Divina Comédia", que atribuiu a santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje. Como estamos quase chegando em Cucaita, termina aqui a breve história sobre Santa Luzia.
Ufa! Finalmente estávamos na reta final de nossa jornada. A placa indicando "Cucaita" à esquerda foi uma injeção de ânimo, pelo menos em mim.
Na rua que liga a rodovia à pequena cidade de Cucaita. A cara é de cansado mesmo.
Logo na entrada da cidade, uma pequena capela dedicada à Santa Luzia.
Olha que beleza o interior...
... e olha que beleza o exterior.
Como muita gente participa dos festejos religiosos na cidade, muitos já estavam preparando as barracas de comes, bebes e brindes.
As missas na igreja acontecem de hora em hora. Já de manhã o movimento de fiéis perto e dentro do templo já é grande.
As missas de manhã são celebradas dentro do templo. A missa principal, das 12 horas, é celebrada na praça principal, em frente à igreja.
Participamos da missa das 10 da manhã, uma hora depois que chegamos à cidade.
Vejam só que maravilha.
Para esperar a missa principal, demos umas voltas pela cidade.
Não é abençoada essa visão maravilhosa? Estamos na praça, onde foi celebrada a missa campal das 12 horas.
Encontramos com conhecidos e amigos. Todos estávamos muito cansados... mas muito felizes.
O comércio é intenso...
... incluindo a venda de pintinhos (colorizados), coelhos e cachorrinhos.
Os pintinhos eram coloridos, mas os frangos assados, todos amarelos. Eram vendidos assim mesmos, "de baciada".
Tem cada imagem uma mais linda que a outra.
Agora, perto do momento em que o andor com a imagem de Santa Luzia é carregado do interior da igreja para a praça.
O povo colombiano é muito devoto.
Três padres concelebraram a missa desde o presbitério montado. Vários outros, como eu, celebraram de onde estavam. Eu não foi celebrar lá em cima pois bastava eu sentar para cair no sono. Dormi sentado (e não fui o único) enquanto tentava almoçar, logo depois da missa das 10.
Que coisa mais maravilhosa foi ter participado da caminhada e deste dia devocional.
Eu não poderia deixar de publicar esta foto, não é?
Este é o jeito "llanero" de preparar churrasco.
Voltamos para casa de ônibus... ainda bem.
Eu rezei muito por todos vocês!!!
Santa Luzia, rogai por nós!!!