quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Caminhada de mais de 30 km até Cucaita

Celebrar dia de Santa Luzia, 13 de dezembro

Dia 13 de dezembro participei de uma romaria-caminhada desde aqui o Mosteiro Desierto de la Candelaria até a cidade de Cucaita (pronuncia-se Cucáita), mais de 30 km distante. Caminhamos pelas montanhas, desde as 2 da manhã até quase 9 da manhã, para participar dos festejos religiosos em louvor à Santa Luzia. A cidade, pequena, recebe muitos romeiros e devotos.

Acompanhe-me nesta caminhada. Aproveito para contar um pouco da vida de Santa Luzia. As palavras justificadas no centro são comentários para as fotografias. O texto justificado à esquerda é sobre a própria Santa Luzia.

Aqui está a imagem de Santa Luzia que temos no museu do mosteiro. Tirei essa foto ontem, por isso estou de cabelo curto. No dia 13 a imagem de Santa Luzia ainda estava passando por reparos.

Conheça um pouco da história de Santa Luzia, muito amada e invocada como a protetora dos olhos, janela da alma.

Santa Luzia (ou Santa Lúcia – o nome deriva do latim) nasceu em Siracusa (atual Itália) por volta do ano 283.

Precisei acordar no início do dia 13 de dezembro para caminhar na romaria com as mulheres e homens que decidiram viver esse ato de fé.

Conta-se que sua família italiana era rica e cristã, o que lhe proporcionou uma ótima formação cristã. Seu pai faleceu cedo. Sua mãe a prometeu, sem que ela soubesse disso, inicialmente, em casamento com um jovem de família distinta mas pagão. Em seu coração, Luzia já havia feito o propósito de consagrar-se inteiramente a Cristo.

Acordei por volta das... EPA!!! Dormi com roupa e tudo? Na verdade eu não dormi nada. Tinha algumas coisas para fazer e aproveitei o tempo disponível. Além disso, eu estava muito animado para a caminhada e o dia em Cucaita e o sono não veio de jeito nenhum. Mesmo assim resolvi tirar essas duas fotos: eu "dormindo" e eu "acordando". Saí do mosteiro era quase uma e meia da manhã do dia 13 de dezembro.

Quando sua mãe ficou doente, Luzia a assistiu, como boa filha que era. Como a mãe não melhorava, resolveu ir à Catania, no túmulo de Santa Águeda, famosa pelos muitos milagres que o Senhor realizava pela intercessão da venerada mártir.

Quase duas da manhã no caserio (conjunto de casas perto do mosteiro). O silêncio total foi quebrado com o latido de muitos cachorros. Duvido que alguém não tenha acordado com tal escândalo canino. Com a ajuda de Deus, não estava muito frio e não estava chovendo, ao contrário da maioria das noites anteriores.

Luzia levou a mão em peregrinação à tumba da santa; quando regressou, a mãe estava completamente curada. A mãe de Luzia permitiu, então, que a filha mantivesse seu voto de castidade e também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como era o desejo de Luzia. Assim ela o fez.

Apesar das nuvens, o luar iluminava bem o caminho. Outra grande ajuda de Deus nesta noite. As três primeiras da caminhada foi de subida. Subimos, subimos, subimos, subimos... parecia impossível que a subida não terminasse.

Luzia não queria oferecer sacrifício aos deuses e nem quebrar o seu santo voto de virgindade a Cristo. Ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Ela vivia em um período de perseguição religiosa, que foi imposta pelo cruel imperador Dioclesiano.

A primeira parada que fizemos foi essa, só para tirar a foto. Já estávamos perto do ponto de começar a descer. Estou ao lado da Yaneth, que é quem faz a caminhada devocional todos os anos, contanto que seja possível. Nestes 10 anos de peregrinação, só não foi caminhando um ano por motivo de falta de saúde. Estávamos em uns 12, ora todos juntos, ora em grupos separados. Nós 6 (os 5 da foto e quem a tirou) permanecemos juntos todo o tempo.

O jovem a quem Luzia havia sido prometida em casamento, ao se inteirar da negativa de Luzia em querer casar-se com ele, resolveu denunciá-la. Ela foi presa e levada diante das autoridades civis. Confessou sem vacilar sua fé em Cristo. Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição.

Passamos por alguns atalhos. Vários trechos eram bastantes perigosos de se caminhar, ainda mais de noite. Mas fomos bastante cuidadosos.

Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem os dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Ela respondeu que, quando a alma não permite, a profanação do corpo não afeta a pessoa. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo.

Já raiando o dia: que paisagem mais bela! Nosso objetivo, Cucaita, está lá longe, depois daquelas montanhas.

Luzia foi torturada (os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva) e somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano de 304.

Lindo, fantástico, maravilhoso, indescritível...

Para proteger as relíquias de santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária.

Nossa segunda parada. Curtíssimas, de somente alguns minutos. O objetivo é caminhar sem paradas de descanso... e em jejum, preferivelmente. Passamos por diversos tipos de terreno, com e sem vegetação, e de vegetação bem diversificada entre um terreno e outro.

Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.


Apesar do cansaço da caminhada e da noite sem dormir, tudo valeu a pena.

Somente em 1894 o martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado, quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro, em Siracusa, Ilha da Sicília, atual Itália.

Cada lugar mais impressionante que outro, pela variedade de visual e sentimento. Já estávamos perto da rodovia, mas ainda bem longe de Cucaita.

A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV. Provavelmente foi São Gregório Magno quem introduziu o nome de Santa Luzia no cânon da missa. A devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão ("Luzia" deriva de "luz"), já era exaltada desde o século V.

Aqui está a rodovia. Depois que entramos nela, caminhamos ainda uma hora e meia.

Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo.

Olha só quem está na foto, na beira da rodovia. Pelo menos a subida e a descida haviam terminado.

A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Foi enaltecida pelo magnífico escritor Dante Alighieri, na obra "A Divina Comédia", que atribuiu a santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje. Como estamos quase chegando em Cucaita, termina aqui a breve história sobre Santa Luzia.

Ufa! Finalmente estávamos na reta final de nossa jornada. A placa indicando "Cucaita" à esquerda foi uma injeção de ânimo, pelo menos em mim.

Na rua que liga a rodovia à pequena cidade de Cucaita. A cara é de cansado mesmo.


Logo na entrada da cidade, uma pequena capela dedicada à Santa Luzia.

Olha que beleza o interior...

... e olha que beleza o exterior.

Como muita gente participa dos festejos religiosos na cidade, muitos já estavam preparando as barracas de comes, bebes e brindes.

As missas na igreja acontecem de hora em hora. Já de manhã o movimento de fiéis perto e dentro do templo já é grande.

As missas de manhã são celebradas dentro do templo. A missa principal, das 12 horas, é celebrada na praça principal, em frente à igreja.

Participamos da missa das 10 da manhã, uma hora depois que chegamos à cidade.

Vejam só que maravilha.

Para esperar a missa principal, demos umas voltas pela cidade.

Não é abençoada essa visão maravilhosa? Estamos na praça, onde foi celebrada a missa campal das 12 horas.

Encontramos com conhecidos e amigos. Todos estávamos muito cansados... mas muito felizes.

O comércio é intenso...

... incluindo a venda de pintinhos (colorizados), coelhos e cachorrinhos.

Os pintinhos eram coloridos, mas os frangos assados, todos amarelos. Eram vendidos assim mesmos, "de baciada".

Tem cada imagem uma mais linda que a outra.

Agora, perto do momento em que o andor com a imagem de Santa Luzia é carregado do interior da igreja para a praça.

O povo colombiano é muito devoto.

Três padres concelebraram a missa desde o presbitério montado. Vários outros, como eu, celebraram de onde estavam. Eu não foi celebrar lá em cima pois bastava eu sentar para cair no sono. Dormi sentado (e não fui o único) enquanto tentava almoçar, logo depois da missa das 10.

Que coisa mais maravilhosa foi ter participado da caminhada e deste dia devocional.

Eu não poderia deixar de publicar esta foto, não é?

Este é o jeito "llanero" de preparar churrasco.

Voltamos para casa de ônibus... ainda bem.

Eu rezei muito por todos vocês!!!

Santa Luzia, rogai por nós!!!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal / Navidad --- Celebrações

Feliz Natal / Feliz Navidad
A trilogia do Natal: a paz, a alegria, a glória

No anúncio dado aos pastores, encontramos esses três conceitos da mais pura teologia e espiritualidade do Natal:

1- O anúncio da PAZ porque Quem vem ao mundo é:
- o "Príncipe" portador da Boa Nova, segundo a profecia de Isaías;
- o Salvador, segundo o anúncio dos anjos.
O prolongamento deste tema na Jornada da Paz, dia 1 de janeiro, tem seu fundamento bíblico.

2- O nascimento do Senhor constitui o alegre anúncio, o evangelho (Boa Nova) de uma grande ALEGRIA. Tudo grita como em uma antecipação da alegria da reconciliação universal, neste sentido de alegria dos anjos e dos pastores, do céu e da terra.

3- Natal é a festa da GLÓRIA de Deus. O Senhor é glorificado nos céus, mas sua glorificação é sinal de sua presença na terra. A glória do Senhor envolve os pastores. Sobre o Verbo encarnado, repousa a salvação, que é sinal já da definitiva presença de Deus no meio do mundo.

(veja: O Presépio, no final desta postagem)

Profissão Solene de frei Jorge Chaparro

Aí está frei Jorge Chaparro, que professou dia 5 de dezembro. Estive em Bogotá para participar deste dia tão importante na vida deste nosso irmão frade agostiniano recoleto.

Depois da cerimônia, um almoço para celebrar o dia e a vocação do frei Jorge. Na mesa, parte de seus familiares.

O almoço aconteceu no refeitório do seminário que acomoda os frades estudantes de teologia.

Além do frei Jorge, que eu já conhecia, encontrei-me com frei Aleycer, com quem fiz noviciado em 2005. Frei Aleycer é sacerdote por pouco mais de um ano, e eu, por pouco mais de dois anos.

Um breve passeio por Bogotá:

Terminada a cerimônia e celebração da profissão solene de frei Jorge, aproveitei a tarde livre para passear um pouco por Bogotá. Fui visitar a biblioteca "El Tintal". É moderna, grande, toda informatizada... valeu a visita.

O prédio é novo e a rampa dá acesso direto ao segundo piso, onde estão a maioria dos livros e computadores.

Aqui estou no piso inferior.

E aqui está parte do piso superior.

Depois fui até "Transmillenio", que é o nome do metrô de superfície de Bogotá. As fotos não fui eu quem tirou. Usei o "santo Google, buscai por nós". Já estava começando a chover quando cheguei em uma das estações do sistema.

Mesmo sendo quase três da tarde, as estações estavam lotadas de gente e os ônibus, idem. O sistema é eficiente e rápido, uma vez que se consegue entrar em um dos ônibus.

Aproveitei que estava chovendo e andei bastante de metrô, que é sempre de superfície. Troquei de ônibus algumas vezes e na maioria das vezes não consegui subir no ônibus na primeira tentativa. Muita gente para subir nos ônibus que já estavam superlotados.

A experiência valeu, é claro. Mas é muito desconfortável. O "Transmillenio" tem um apelido: "Transmilleno". Explicação na próxima foto.

"Lleno" significa "cheio, lotado". Então, o nome, ao invés de querer dizer "transporte do milênio", com o apelido fica "transporte lotado" ou coisa parecida.

Desci na estação Boyacá, cerca de 25 minutos caminhando até onde estava hospedado, na Casa Provincial. A foto acima fui eu quem tirou. Dá para perceber que o trânsito em Bogotá é caótico, sempre. É tão bom estar de volta à tranquilidade da Candelária!!!

Voltando para casa no dia seguinte, passamos (frei José e eu) por Chiquinquirá. Olha só esta curiosidade: tem lugar que oferece banheiro masculino para fazer o número 1 (líquido) do jeito que está aí: dê uma olhada na paredinha com azulejo branco: é assim mesmo, aberto e praticamente em público. E já encontrei banheiro assim até dentro de lanchonete. É tão estranho...

Passamos também por Ráquira. Frei José precisou buscar algo e eu fiquei esperando. No bar ao lado, estava tocando música brasileira. É a primeira vez que ouço música brasileira em rádio, aqui. E estava tocando "Delícia, Delícia, assim você me mata". Será que eu mereço ouvir isso aqui?

Bodas de prata sacerdotais
de Padre Jorge

Outro frei Jorge na parada. Como ele nasceu na região, celebrou seus 25 anos de sacerdote aqui na Candelária. O aniversário foi dia 6 de dezembro, mas a Missa de Ação de Graças foi no dia 10. Na foto: a irmã dele, o próprio padre frei Jorge Edgar e eu.

Familiares do padre Jorge. Infelizmente, como na cerimônia de profissão solene, não tenho fotos da celebração.

Entre outros, estiveram presentes: padre frei Álvaro (vocês já conhecem de outra postagem), o mestre de noviços padre frei Gabriel, o Prior Provincial padre frei Norberto, o "dono" da festa padre frei Jorge e o padre prior da mosteiro, frei José. Eu tirei a foto.

Também marcaram presença: o seminarista Julián e sua mãe, os seminaristas Andrews e Oscar. Os três moram e estudam no seminário onde padre frei Jorge 25anero vive.

Visita do diácono frei Bruno

Foi frei Bruno, que é diácono, quem tirou esta foto, que ficou muito boa. Nela estão os noviços que professarão em janeiro: frei Camilo, frei Alejandro, frei Magno e frei Laércio (brasileiros), frei Fabián, frei Jorge (outro Jorge) e frei Nelson. Os 5 que não são brasileiros são colombianos.

Aí está o diácono frei Bruno (é o da esquerda, viu?). Ele é argentino, vive e trabalha na Venezuela e passou uns dias com a gente, em retiro. Frei Bruno será ordenado sacerdote em março de 2012. O mosteiro é maravilhoso. Vocês precisam vir aqui conhecer.

Novena de Natal

A Novena de Natal já está em andamento. Aí estou eu, presidindo a missa de domingo. A novena sempre acontece depois da missa.

A participação especial fica por conta dos meninos e meninas que cantam "villancicos": músicas de natal, a maioria delas não são "importadas" do Natal dos Estados Unidos e/ou Inglaterra.

As crianças ensaiam todas as tardes, às 14 horas.

Aqui já estamos na casa de dona Berta (Bertica para os amigos), participando da Novena de Natal. Já deu para saber que as novenas acontecem tanto na igreja como nas casas.

Frei Bruno também participou.

Olha as botas, calçado essencial para as estradas de terra abençoadas com chuva, bastante chuva.

O Presépio

Foi no século XII quando São Francisco de Assis iniciou o costume de representar a natividade de Jesus por meio de figuras. Desde então, a Virgem Maria, São José, o Menino Jesus, os três reis magos, os pastores, a mula e o boi se converteram em protagonistas do presépio.

A ideia de representar com figuras o nascimento de Cristo surgiu à São Francisco de Assis durante uma viagem que fez em 1223 à gruta de Belém, lugar onde nasceu o Redentor. Entretanto, a encarregada de difundir a tradição de representar o nascimento foi Santa Clara de Assis. Na Idade Média e no Renascimento se acrescentou ao presépio a figura dos Pastores de Belém e os três Reis Magos: Melchior, Gaspar e Baltazar. Eles trazem ao menino Jesus oferendas de incenso, mirra e ouro.