terça-feira, 31 de maio de 2011

Casais em Segunda União Estável - terceira parte

A espiritualidade dos casais

em segunda união estável

Um caminho de vida cristã do qual o casal deve participar – primeira parte

O amor é um presente de Deus

São muitos os casais hoje em segunda união. São pessoas que foram casadas uma primeira vez na Igreja, se separaram e se uniram a outra pessoa apenas no civil, já que não podem se casar na Igreja.

A Igreja não quer discriminar nem punir os casais em segunda união, mas sim oferecer-lhes um caminho espiritual-pastoral adaptado à sua situação. A orientação mais clara que a Igreja oferece sobre a situação dos casais em segunda união está na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” (sobre a Família) do Papa João Paulo II, escrita após o Sínodo da Família realizado em 1980, no Catecismo da Igreja Católica (CIC artigo número 1652) e na Exortação Apostólica “Sacramentum Caritatis” (Sacramento da Caridade) do Papa Bento XVI, de 2007.

A Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, no número 84, exorta os casais divorciados a participar de um caminho de vida cristã que deve consistir em “ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência... que se resume em “perseverança na oração, na penitência e na caridade”.

O Catecismo da Igreja Católica, ao tratar do assunto, constata que são numerosos, em muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à Palavra de Jesus Cristo, afirma que não pode reconhecer como válida uma nova união se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus.

Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística enquanto perdurar esta situação e, pela mesma rezão, não podem exercer certas responsabilidades eclesiais. O Catecismo, no artigo de número 1652, diz que “a respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova de uma solicitude atenta, a fim de não se considerarem separados da Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja: Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus.”

Sacramentum Caritatis” é a expressão com a qual Santo Tomás de Aquino chama a Eucaristia, sinal vivo de Deus que não abandonou o mundo e continua presente com o seu amor. Trata-se do ponto crucial para a vida da Igreja e da humanidade. A intenção do Papa Bento XVI é a de colocar esta exortação na linha de sua primeira Carta Encíclica, a “Deus Caritas Est” (Deus é Amor).

No número 29 de sua Exortação Apostólica “Sacramentum Caritatis”, o Papa Bento XVI reafirma o convite de cultivar, quanto possível, “um estilo cristão de vida, através da participação da Santa Missa, ainda que sem receber a comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração Eucarística, da oração, da cooperação da vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos”.

Dom Filippo Santoro, bispo de Petrópolis (RJ), integrante da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da CNBB e professor de teologia da PUC-RJ, nos recorda da crescente dificuldade que casais podem enfrentar para viver seu relacionamento de forma estável e que, assim como o amor de Deus é irreversível, o sacramento do matrimônio é indissolúvel. Portanto, não se pode conceder a comunhão aos divorciados casados de novo. Porém, ele enfatiza que esses divorciados são parte da Igreja e que essa mesma Igreja deve acompanhar com especial solicitude seus filhos e filhas.

Mesmo que o estado permanente de segunda união seja uma situação “irregular”, a Igreja, ao acolher os casais em segunda união, preserva seus princípios e vive a realidade do Reino de Deus: amar e acolher a comunidade cristã expressando a presença de Deus em seu seio. A acolhida pelo amor oferecida aos casais em segunda união é um verdadeiro caminho que pode ser chamado pois é, de fato, um caminho espiritual-pastoral muito rico de frutos espirituais de vida cristã.

Fraternalmente, frei Mason

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